Eficácia de programa de Arteterapia com grupo de mulheres com dependência de drogas
Resumen
O estudo avaliou a eficácia de um programa de Arteterapia grupal voltado para mulheres dependentes de drogas. Foram realizados nove encontros grupais de Arteterapia e aplicou-se um questionário: Qual é o valor de um grupo de Arteterapia voltado para um grupo exclusivo de mulheres dependentes de drogas? Na análise dos dados, emergiram três categorias, a saber: O grupo de Arteterapia encoraja a partilha de emoções; estimula a relação de confiança; e favorece o bem-estar geral.
Palabras-chave: arteterapia, saúde da mulher, transtornos pelo uso de sustancias, saúde mental.
Resumen
El estudio evaluó la efectividad de un programa de Arteterapia grupal dirigido a mujeres drogodependientes. Se realizaron nueve reuniones grupales de Arteterapia y se aplicó un cuestionario: ¿Cuál es el valor de un grupo de Arteterapia centrado en un grupo exclusivo de mujeres drogodependientes? En el análisis de datos, surgieron tres categorías, a saber: el grupo de Arteterapia fomenta el intercambio de emociones, estimula la relación de confianza y favorece el bienestar general.
Palabras-chave: arteterapia, salud de la mujer, trastornos por consumo de sustancias, salud mental.
Introdução
Um dos graves problemas de saúde pública no Brasil é a dependência de drogas psicoativas, transtorno que gera vários danos indesejáveis, como crises familiares, violências, acidentes de trânsito, agravos à saúde física e mental, problemas financeiros e no trabalho, dificuldades educacionais, aumento das internações hospitalares entre outros (SNPD, 2017). Além disso, a dependência de drogas é um dos transtornos mentais com maior incidência de comorbidades psiquiátricas, entre os quais se incluem a depressão e a ansiedade (Danieli et al., 2017).
As mulheres possuem maior vulnerabilidade aos efeitos de drogas psicoativas como maior risco de hipertensão, desnutrição, anemia, doença cardiovascular, doenças hepáticas e gástricas, câncer de mama, osteoporose entre outros. Os fatores psicológicos influenciam, no início do uso do álcool, os sentimentos mais comuns: timidez, ansiedade, preocupação com a imagem corporal, sentimentos de culpa e de medo, esses fatores corroboram para o atraso na busca de tratamento adequado (Fertig et al., 2016).
Vários estudos sobre a prática de Arte em terapia voltada para pessoas em tratamento da dependência de drogas tem sido utilizada como uma ferramenta de cuidado útil em saúde mental, por estimular o autoconhecimento e o relaxamento, aumentar a autoestima ou, ainda, diminuir os sinais de depressão e de ansiedade (Valladares-Torres, 2017; Megranahan e Lynskey, 2018). Hanes (2017), em seu artigo sobre os benefícios do uso da Arteterapia voltado para mulheres dependentes de drogas, concluiu que o uso do desenho em Arteterapia pode ajudar as mulheres a entender melhor o seu caminho de recuperação e ser útil para avaliação, ao oferecer insights sobre o abuso de substâncias e estado psicológico delas. Este estudo apresenta como objetivo avaliar a eficácia de um programa de Arteterapia grupal voltado para mulheres dependentes de drogas.
Desenvolvimento
Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, com delineamento de abordagem qualitativa. Foi desenvolvido em um Centro de Atenção Psicossocial-álcool de outras drogas (CAPS-ad) III de uma região do Distrito Federal, que compõe a rede de atenção à saúde mental. O estudo foi desenvolvido de agosto a dezembro de 2018.
Participaram do estudo 24 mulheres dependentes de drogas que participavam do programa de Arteterapia grupal no período desenvolvido. As mulheres foram selecionadas voluntaria e aleatoriamente nos dias e horários programados para realização de um grupo de Arteterapia voltado para o público feminino. Como critérios de inclusão, foram selecionadas pessoas do sexo feminino, idade acima de dezoito anos, dependentes de drogas, vinculadas ao CAPS-ad III e que aquiesceram em participar do estudo. Já como critérios de exclusão, mulheres que, no momento da entrevista ou das intervenções de Arteterapia, estivessem com sintomas psicóticos graves, bem como apresentassem deficiência física e/ou motora que as impedisse de participar das intervenções de Arteterapia e/ou responder aos questionários.
Foram realizados nove encontros grupais e semanais de Arteterapia com grupos variáveis de três a treze mulheres dependentes de drogas, com duração de, aproximadamente, duas horas cada, coordenados por uma arteterapeuta e por alunos de Enfermagem auxiliares de pesquisa, ambos vinculados à Universidade de Brasília. Todas as intervenções de Arteterapia tinham atividades de aquecimento, de desenvolvimento e de fechamento do processo de forma distinta.
Aplicou-se um Roteiro de Entrevista para identificação do perfil sociodemográfico, clínico e psiquiátrico das participantes, que continha as seguintes variáveis: idade, naturalidade, escolaridade, estado civil, filhos, grupo étnico, residência, trabalho e renda, vulnerabilidade social (violência), droga de dependência e tempo de tratamento. Esses dados foram expostos de forma descritiva e exploratória e foram agregados ao trabalho, a fim de expor o perfil das mulheres pesquisadas.
Também foi utilizada uma Questão aberta de Saída, elaborada pelas autoras e aplicado no final das intervenções de Arteterapia. A questão consistia na pergunta: Qual é o valor de um grupo de Arteterapia voltado para um grupo exclusivo de mulheres dependentes de drogas? As respostas foram transcritas na íntegra. Posteriormente, os dados verbais foram submetidos a uma análise de conteúdo qualitativa, modelo proposto por Bardin (2011), e foram organizados em três fases: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados, e depois agrupados por temas similares e relevantes.
Foram obedecidos todos os preceitos éticos e legais, por se tratar de pesquisa que envolve seres humanos e se obteve a autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (CEP/FEPECS), sob o CAAE nº 44625915400005553. Todos os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foram assinados pelas participantes. Para assegurar o anonimato das participantes, elas escolheram um nome de flor para serem representadas ao longo deste artigo, seguido pelo número da intervenção. Ficou cada participante representado conforme o exemplo: Violeta-1ª.
Um grupo de Arteterapia, além de trabalhar com a comunicação verbal e não verbal, por meio da arte, facilita a expressão das emoções, para além do que um grupo misto. O grupo exclusivo de mulheres disponibilizou melhor o compartilhar de experiências inclusive dolorosas com as outras.
Participaram do estudo 24 mulheres dependentes de drogas com idade mínima de 29 e máxima de 59 anos e média de idade de 41 anos. Em maioria, eram solteiras ou separadas, tinham filhos, entretanto não viviam com elas e a média de filhos foi de 2,8. Houve prevalência de baixa escolaridade, grupo étnico autodeclarado de negras, viviam com suas famílias e sem vínculo empregatício. A maioria das mulheres participantes era dependente de múltiplas drogas, em especial do álcool e crack e tinha mais de um ano de adesão ao tratamento no CAPS-ad III. Cem por cento das mulheres participantes já haviam sofrido algum tipo de violência e 78% foram cometidas pelo companheiro.
Idade média alta das mulheres, serem separadas, terem filhos que não coabitam com elas, grupo étnico de negras, alcoolistas, alta vulnerabilidade social (risco de violência, desemprego) são aspectos citados entre os autores que avaliam os dados sociodemográficos de pessoas usuárias dos serviços de saúde mental (Mastroiani et al., 2016; Danieli et al., 2017).
As participantes mais frequentes no grupo foram em ordem decrescente: Margarida – participou de sete intervenções; Girassol – participou de seis; Lírio – de quatro; Azaleia, Camomila, Tulipa e Verbena – participaram de três intervenções cada; já Amor-perfeito, Begônia, Borragem, Capuchinha, Cravo, Gerânio e Hortência – participaram de dois encontros; e, finalmente, as participantes Alfazema, Antúrio, Arruda, Bromélia, Camélia, Confrei, Crisântemo, Hibíscus, Jasmim e Violeta – participaram apenas de um encontro. Na prática clínica, é possível observar a baixa adesão dos usuários nos grupos terapêuticos, é uma característica comum entre o grupo de drogadictos.
Na análise do conteúdo verbal expresso pelas participantes no Questionário aberto de Saída, emergiram três categorias, a saber: (a) o grupo de Arteterapia exclusivo para mulheres dependentes de drogas encoraja a partilha de emoções; (b) o grupo de Arteterapia exclusivo para mulheres dependentes de drogas estimula a relação de confiança; e (c) o grupo de Arteterapia exclusivo para mulheres dependentes de drogas favorece o bem-estar geral.
O grupo de Arteterapia exclusivo para mulheres dependentes de drogas encoraja a partilha de emoções
Um grupo de Arteterapia, além de trabalhar com a comunicação verbal e não verbal, por meio da arte, facilita a expressão das emoções, para além do que um grupo misto. O grupo exclusivo de mulheres disponibilizou melhor o compartilhar de experiências inclusive dolorosas com as outras. Simultaneamente, um grupo de Arteterapia exclusivo para mulheres oferece uma saída diferenciada para as emoções, bem como novos insights e novas redescobertas. Nas falas a seguir foram registrados os aspectos apresentados nesta categoria:
Desabafei minha raiva, tanta raiva (P3-1ª). Gostei muito eu acho que desabafa (P4-5ª). Gostei, desabafei (P6-3ª). Foi muito bom, sensação de alívio, um peso que tirou (P9-2ª). É um desenrolar de sentimentos (P9-9ª). Um alívio (P21-5ª). Foi uma possibilidade de falar de mim e de meus problemas com pessoas passando por muitas dificuldades parecidas com a minha (P21-3ª). Foi uma maneira de eu expressar a minha intimidade sem perceber (P21-9ª). Consegui me expressar mais facilmente (Lírio-9ª). A arte é mais suave, consegui passar pelas etapas da minha vida sem ficar presa a elas (Margarida-9ª). Com a arte e um grupo só para mulheres fico mais à vontade de falar o que verdadeiramente sinto (Margarida-9ª, Camomila-9ª). Ajuda a expressar melhor a minha vida pessoal e íntima – sexual (Girassol-9ª). Me senti verdadeira, pude comunicar o que estava sentindo (Girassol-9ª).
Artigo que validou a eficácia do processo das Arteterapias criativas com uma mulher dependente de múltiplas drogas e usuária de um Centro de Atenção Psicossocial álcool e outras drogas constatou que, com as intervenções de Arteterapias criativas, houve libertação catártica de temas emocionais, aumento da autopercepção e da autoestima, e foram favorecidos o relaxamento, a vitalidade e a autoconfiança, além da melhoria do seu estado de ânimo (Valladares-Torres, 2018a).
Outro estudo de caso clínico-qualitativo de Arteterapia desenvolvido com doze usuários do sexo masculino de um Centro de Atenção Psicossocial álcool e outras drogas (CAPS–ad) III expressou seu mundo inconsciente de forma lúdica, por meio da colagem de do desenho. Com as intervenções de Arteterapia, foi possível compreender o momento de vida que os participantes, dependentes de drogas estavam vivenciando (Valladares-Torres e Lago, 2018a).
Uma pesquisa que avaliou um programa de Arteterapia em um serviço multidisciplinar de saúde mental constatou que melhorias na qualidade de vida e enfatizou o seu papel importante da intervenção não verbal, além da verbal, especialmente voltado para pessoas com dificuldade de verbalização. Além disso, a autoexpressão criativa foi bastante pontuada positivamente pela equipe de saúde e pelos usuários do serviço como parte do processo de reabilitação psicossocial (Brady, Moss e Kelly, 2017).
Estudo clínico-qualitativo em forma de estudo de caso múltiplo analisou o processo de Arteterapia com o uso das máscaras e a tipologia de Jung em dois alcoolistas usuários de Centro de Atenção Psicossocial – álcool e outras drogas mostrou que as sessões de Arteterapia favoreceram os participantes a expor mais seus sentimentos, a distrair-se dos problemas e a refletir sobre sua vida. As sessões de Arteterapia podem favorecer a expressão verbal e a não verbal de alcoolistas, de modo a contribuir para a autorreflexão do processo terapêutico e para a mudança comportamental (Valladares-Torres e Lago, 2018b).
O grupo de Arteterapia exclusivo para mulheres dependentes de drogas estimula a relação de confiança
Algumas mulheres participantes apontaram que o trabalho em grupo auxilia na consciência de si e dos outros, favorece o relacionamento e/ou apoio social, pois participar do grupo as fez sentir como se fossem partes de uma comunidade. Aspectos que favoreceram a formação de relações de confiança entre o grupo de pares e, consequentemente, de autoconfiança. E foram apontados nos depoimentos de algumas participantes:
Minha vida também tem boas histórias para compartilhar com as outras mulheres (P18-1ª). Ver a realidade de outras mulheres vai me ajudar a enfrentar a realidade e para enfrentar os problemas (P4-8ª, P11-4ª). Fez eu pensar na minha vida, nas coisas boas também que tenho, além do vício do álcool (P12-3ª). Me ajudou a ver quem eu sou, antes ficava com medo de errar e me deu forças para encarrar os problemas (Girassol-9ª). Percebi que todas nós temos problemas na vida e ambas estamos enfrentando os problemas de diferentes maneiras (Camomila-9ª). Cada uma com sua experiência diferente ajuda a outra a outra (Girassol-9ª). Ambas estamos buscando melhorar e progredir na vida (Margarida-9ª). Eu achava que meu problema era maior do que das outras (Girassol-9ª). Hoje eu consegui falar e não apenas a sorrir (Tulipa-9ª). Vi que sou capaz, fortaleceu minha autoconfiança (Camomila-9ª). Aprendi muitas coisas novas com as outras mulheres (Lírio-9ª).
Um relato de experiência desenvolvido com mulheres dependentes de drogas apenadas reforçou que as técnicas expressivas permitem a percepção de padrões comportamentais e de personalidade, que ao fazerem parte da dinâmica de vida do autor. O poder projetar-se pela atividade expressiva permitiu com que o conteúdo expressivo emerso pelas participantes pudesse ser discutido e trabalhado. Aspecto que viabilizou o estabelecimento de vínculo de confiança positivo e proporcionou melhor condução dos trabalhos aplicados a esta clientela (Guadaim, Wielganczuk e Soares, 2018).
Outra pesquisa realizada com 55 toxicômanos de um CAPS–ad, de ambos os sexos, em que foi proposta a confecção de máscaras em Arteterapia com a utilização de materiais e elementos diferentes em cada intervenção apresentou como resultado que essas intervenções de Arteterapia estimularam a autopercepção, o autoconhecimento, a interação com os outros participantes e a busca pela verdadeira identidade psíquica, visto que as máscaras auxiliaram no aprofundamento do autoconhecimento e do processo de transformação pessoal (Valladares-Torres e Costa, 2018).
O grupo de Arteterapia exclusivo para mulheres dependentes de drogas favorece o bem-estar geral
Foram citados os aspectos de bem-estar geral relacionados às mudanças positiva significativas no humor, aos sentimentos de alívio da tensão e/ou ansiedade iniciais e à redução dos sintomas físicos, como melhoria da cefaléia, das dores musculares e da dificuldade respiratória. Quanto à melhoria do humor, algumas verbalizações foram citadas a seguir:
Gostei, me deixou mais animada. Porque eu estava desanimada e agora meu ânimo melhorou (P6-5ª). Significou muito para mim, conversamos, rimos, pois ficar só dá depressão (P14-9ª). Fiquei mais animada (P18-3ª). Me diverti, fiquei mais animada (P14-7ª). Me deu ânimo para voltar para casa e recomeçar (P10-3ª). Fiquei mais revigorada (P17-7ª). Me deu energia (P21-4ª). Eu estava muito triste, mas agora voltei a tomar banho e ter ânimo para sair de casa (Girassol-9ª).
Um ensaio randomizado de Ciasca et al. (2018) sobre a aplicação da Arteterapia como adjuvante no tratamento da depressão em mulheres idosas mostrou que as mulheres que participaram do grupo experimental (n = 31) apresentaram melhoria significativa nos escores de depressão (p = 0,007 e p = 0,025) e de ansiedade (p = 0,032) em comparação com os controles (n = 25). Em relação ao alívio das tensões-ansiedade, do estresse e da ansiedade verbalizadas pelas mulheres participantes foram apresentadas a seguir:
Gostei, fiquei mais relaxada (P1-3ª). A oficina me distraiu a cabeça (P2-5ª, Lírio-9ª). A Arteterapia me ajudou a ficar mais calma e a me distrair (P4-9ª). A atividade me fez me sentir bem, mais relaxada… (P8-6, P11-3, P17-7ª, P24-6ª). […] consegui descansar (P12-9ª). Me deixou mais tranquila (P14-3ª, Tulipa-9ª, Camomila-9ª). Me destressei (Tulipa-9ª). O grupo aliviou minhas tensões (Margarida-9ª, Lírio-9ª).
Outro estudo randomizado de Sezen e Ünsalver (2018) com mulheres que experimentavam medo do parto expôs que, ao final das seis semanas, os escores da escala de depressão de Beck e de ansiedade diminuíram significativamente no grupo experimental de Arteterapia em relação ao grupo controle ao final do tratamento. Assim, os achados do estudo indicaram que a Arteterapia é um método eficiente para reduzir o medo do parto, da mesma forma, os níveis de ansiedade e os sintomas depressivos em mulheres grávidas no último trimestre. Um programa de Arteterapia possibilita mudanças no comportamento, ajuda as mulheres a enfrentar e expressar seus medos por meio da sua arte (desenho) e, posteriormente, ganhar controle sobre seus medos (fazer mandalas, fazer fantoches, tirar fotos e fazer colagens) dentro de uma base segura e um sistema de apoio social contínuo fornecido pela estrutura do grupo de Arteterapia. Sobre a redução dos sintomas físicos apresentadas pelas participantes foram registradas a seguir:
Ajudou a esquecer minhas dores nas pernas (P2-5ª). Foi um alívio para minha dor de cabeça (P11-1ª). A minha falta de ar diminuiu um pouco (P23-3ª).
A Arteterapia é uma ferramenta que pode gerar um bem-estar aos seus participantes, pois trabalha com o lúdico, a criatividade, o simbólico e a elaboração dos conteúdos expressos (Valladares-Torres, 2018b). Vários trabalhos de Arteterapia com dependentes de drogas têm obtido resultados positivos sobre o bem-estar de usuários de drogas, dados que corroboram com os encontrados nesta pesquisa e apresentados a seguir.
Em relação à melhoria do humor e ao alívio das tensões, uma pesquisa de métodos mistos, ao identificar a percepção de 37 toxicômanos sobre um Programa de intervenção com Arteterapia corrobora com os dados encontrados neste estudo. Apresentaram que, após participarem das intervenções 94,3% dos usuários alegaram maior relaxamento e vitalidade, 91,4% relataram melhoria do estado de ânimo, 88,6% aumentaram a autopercepção e autoestima, 85,7% obtiveram maior confiança em si mesmos, 82,9% deixaram fluir o processo criativo e adquiriram maior autonomia ou sensação de poder (Valladares-Torres et al., 2018). Pesquisa que confirma esses dados foi a de Valladares-Torres e Torres (2018) ao comparar o nível emocional das pessoas 35 dependentes de drogas antes e após as intervenções de “Arteterapia criativas” de um CAPS-ad. Os autores apresentaram que a alegria aumentou a pontuação, enquanto a tristeza reduziu a pontuação.
Considerações Finais
Em que se considere a importância dos resultados obtidos, apesar da inclusão de 24 mulheres dependentes de drogas a assiduidade das mulheres nas intervenções de Arteterapia foi baixa. Há de se considerar que a adesão dos dependentes de drogas nos grupos terapêuticos é frequentemente baixa. Também são necessários mais estudos com mulheres dependentes de drogas de outros serviços de saúde mental e em outros territórios para permitir a generalização dos achados. Este estudo forneceu subsídios do significado de um grupo de Arteterapia voltado para um grupo exclusivo de mulheres dependentes de drogas, a fim de minimizar as consequências do sofrimento ocasionado pela dependência de drogas com a elaboração de novas estratégias criativas, lúdicas e simbólicas nos cuidados em saúde mental para a melhoria do atendimento destas mulheres.
O estudo contribuiu para a instrumentalização de profissionais de saúde mental em cuidados específicos para mulheres, que é uma clientela vulnerável e tem suas particularidades peculiares e pouco valorizadas no âmbito dos serviços em saúde mental. Esta pesquisa possibilitou avaliar a eficácia de um programa de Arteterapia grupal voltado para mulheres dependentes de drogas e, igualmente, possibilitou conhecer o perfil das mulheres participantes. Um grupo de Arteterapia exclusivo para mulheres dependentes de drogas encoraja a partilha de emoções, estimula a relação de confiança, bem como favorece o bem-estar geral. Diante desses resultados, observou-se que a Arteterapia é uma ferramenta preciosa nos cuidados em saúde mental e existem, atualmente, poucos programas tanto de Arteterapia, quanto relacionados ao público feminino nos serviços de saúde mental, em especial nos transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas, no qual o público feminino é minoria. Vale ressaltar que criar intervenções de Arteterapia específicas para grupos de mulheres na dependência de drogas e investir nelas é fundamental, pois existe uma lacuna nos serviços de saúde mental de enfrentamento da dependência voltada para o público feminino.
Referências
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a Doctora en Enfermería Psiquiátrica por la Escuela de Enfermería de Ribeirão Preto (Universidad de San Paulo). Enfermera y Arteterapeuta, certificada por la Asociación Brasil Central del Arteterapia (Brasil) con orientación junguiana. Docente de la Universidad de Brasília. Coordinadora del Consejo editorial de la Revista Científica de Arteterapia Colores de la Vida.
b Estudiante de Enfermería por la Universidad de Brasília.
Cómo citar este artículo:
Afonso Valladares-Torres, A. C. y Araújo Rodrigues, L. T. (2020). Eficácia de programa de Arteterapia com grupo de mulheres com dependência de drogas. Arteterapia. Proceso Creativo y Transformación, 7 (50-56). Recuperado de: https://arteterapiarevista.ar/eficacia-de-programa-de-arteterapia-com-grupo-de-mulheres-com-dependencia-de-drogas/